A razão da minha existência se deu pela enorme vontade dos meus pais de terem uma filhA que fizesse casal com o já nascido filho primogênito, e, sob esse desejo feminino, acabei sendo trazido para o mundo no dia nacional da mulher (sim, existe isso), 30 de abril, em 1986, na cidade onde não se nasce, se estreia: Salvador. Achando pouco todo o clima rosa, eles me deram o nome de Tiago – o nome típico de 07 em cada 10 gays.
A filhA desejada pela família foi providenciada logo um ano depois do meu nascimento, já que eu não atendi a expectativa de todos (pelo menos não biologicamente, porque ironicamente minha irmã sempre foi o mais macho de nós). Passei a ser então o típico invisível filho do meio. Essa foto foi (a única) tirada no meu aniversário de 2 anos, pelo meu pai, que em sua devoção por minha irmã tirou nessa mesma festa (a minha) treze fotos dela.Eu era tão invisível que nem FALAVA. As primeiras palavras que disse foram aos três anos, graças à escola, depois de uma jornada em que me levaram a médicos acreditando que eu era mudo, e terem feito muitas simpatias e mandingas para eu soltar o verbo; inclusive me dando água de chocalho e colocando um pinto (a ave!!) na minha boca. #significa
Minha sexualidade foi um mistério durante muito tempo para mim. Claro que, como todo bom garoto dos anos 80, eu sonhava em ser o Shun em Cavaleiros do Zodíaco, o Kurama em Yuyu Hakusho, o Leiga em Shurato, e o clássico dos clássicos: o Billy dos Power Rangers (hoje declaradamente gay). Isso pra não citar Sailor Moon (eu era a Sailor Mercury, a sabida-nerd); É o Tchan/Gera Samba (sabia todas as coreografias) e Chiquititas (Samuca, me liga, eu sei que nossa história não é brincadeira). Eu, no entanto, não percebia isso como indício do que viria, pois eu, taurino que sou, sempre fui muito lento para os lances do amor.Somada a minha lentidão, ocorreu comigo durante dez anos da minha vida, um abuso sexual; o qual só tive noção da dimensão da perversão e crueldade praticada (quando se é criança, você não acha que amigos de seus pais são capazes de lhe fazer mal) aos 15 anos, estudando sistema reprodutor na escola. Quando descobri o que meu tio fazia comigo, fiquei com tanto nojo e vergonha de mim, que passei a rejeitar tudo que fosse feminino, e passei a definhar e sumir e a me silenciar.
Me aceitar, depois de ter passado por isso, foi muito complicado. Todo mundo acha, inclusive minha família achou quando saí do armário pra eles, que você se torna gay por causa do abuso, ou seja, que você “gostou” de terem invadido seu corpo e lesado sua inocência (–Q!) . Mas graças a Deus, psicólogos existem e você aprende que para encontrar a paz, você precisa aprender a perdoar. E, quando em paz, nem bullying te abala.Namorei garotas e as amei, mas foi só aos 19 anos que amando um garoto (um viva à Internet!), com o qual tive a mais linda história de amor entre dois homens, que me senti completo. Tive direito a tudo, desde tristezas a alegrias: ser apresentado à família, ser rejeitado pelo sogro, expulso de casa, dançar a dois em festa, ganhar flores no dia dos namorados, ser o beneficiário no seguro de vida, beijar em restaurante, noites de amor que viravam dias e tardes (taurino, não esqueçam), viagens juntos e claro, o clássico fim: traição (não da minha parte, por favor, taurino, memorizem).
Hoje, aos 24 anos (idade simbólica e eterna de todos nós) vivo uma vida tranquila, desde que fiz as pazes comigo. Sair do armário não é fácil, mas é preciso – é uma descoberta, e um encontro. Luto pela causa da maneira que me é possível, participando, inclusive, de um grupo anti-homofobia em Sergipe (o @mexamSE) para que histórias ainda mais felizes que as minhas sejam contadas, e o mundo se torne um lugar em que viver não seja sobreviver, e o amor sobressaia diante do medo.Minha família finalmente alcançou a harmonia e é maravilhosa, tenho mais amigos heteros do que gays, que assim como meus irmãos apoiam a causa. Só ainda não consegui amar de novo, nem ser amado, mas meu facebook tai abaixo para isso, né? #sejoga
Ah, a coisa mais importante nas mudanças que o tempo me trouxe: aprendi a nunca mais silenciar a minha voz. Hoje, falo pelos cotovelos (a magia que um pinto na boca faz), e não me calo perante as injustiças.
p.s.: Já ia esquecendo, a primeira paixãozinha de infância, né… fiquei aqui pensando se era o Trunks (Dragon Ball Z) ou o Tarzan (Disney), mas com certeza foi o Caio Blat, em “um Anjo caiu do Céu”. Na época eu não conhecia todo o “potencial” de ator dele, mas já gostava muito. E depois de ter assistido a “Cama de Gato” e ter visto do que aquele corpo magrelo dele é capaz, eu passei a amá-lo ainda mais.
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3 comentários:
Adorei sua história. Lembro-me de minha infância quando a leio, é inevitável.
amei a sua história, tirando a parte dos abusos
ele eh lindoooooooo ^^
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