Nessa foto eu tinha uns 2 anos, na casa dos meus avós em Botafogo - RJ. No chão tem os carrinhos que eu ganhava, mas não ligava. O tecido vermelho, atrás, é o robe de veludo da minha avó que eu vivia roubando. Até hoje eu adoro vermelho.
Eu tenho dois irmãos mais velhos, surfistas, que faziam tudo que garotos fazem: futebol, Karatê, correr atras das meninas. Eu era o caçula que ficava no quarto brincando com legos e lendo livros. Eu aprendi a lutar Karatê e foi um alívio por que eu era pequeno, magro e o bullying começou cedo. Eu só não apanhava mais por que meus irmãos me defendiam, mas tirando isso eu tive uma infância legal. Pegando onda no Posto 10 no Recreio, andando de bicicleta e levando os estudos mais a sério que meus irmãos (hihi).
Eu sempre gostei dos meninos e sempre olhei pra eles e não para as meninas, mas só me dei conta de verdade disso aos 13 anos. Meu irmão tinha um amigo surfista que ia muito lá em casa para tomar banho de piscina. Foi olhando para ele na piscina que eu fiquei excitado pela primeira vez. Eu não queria ser gay, minha família era religiosa e eu sempre ouvi que gays vão pro inferno e o inferno não era um lugar legal. Eu fui a igreja querendo que Deus me tornasse hétero e eu não entendia por que ele tinha me feito gay e agora queria que eu mudasse. Me afastei da igreja e enquanto meus irmãos eram batizados eu inventava desculpas e dores de barriga para não ir.
Aos 17 a coisa estava insuportável. Meus irmãos tinham ido pra faculdade e sem eles pra me defender eu virei saco de pancadas na escola e alvo de todas as brincadeiras de mau gosto. Eu fiquei tão assustado que contei pra minha mãe. Ela disse que já sabia e a gente chorou abraçado. Eu pedi que ela não contasse pro meu pai, por que eu morria de medo que ele nunca fosse aceitar. Um vizinho que estudava comigo ouviu quando eu contei pra uma amiga da escola que eu tinha falado com minha mãe e espalhou pra vizinhança inteira.
Meu irmão mais velho decidiu que eu ia "virar homem" nem que fosse na porrada. Ele me provocava o tempo todo e várias vezes a gente quase brigou fisicamente. Meu pai ficou meses sem saber o que fazer comigo, a gente nem conseguia ficar no mesmo ambiente. Eu tinha medo que aquilo nunca fosse passar e várias vezes me arrependi de ter contado. Minha mãe foi quem ficou do meu lado desde o início e não deixou que a coisa ficasse pior. Levou uns 2 anos pra que eu e o Lipe voltássemos as boas e só esse ano, quase 6 anos depois é que a gente conseguiu conversar de verdade e zerar tudo aquilo.
Aos poucos as coisas se acertaram. Eu arrumei um namorado, meu pai descobriu que eu ainda era a mesma pessoa, minha mãe virou ativista e eu fiz as pazes comigo e pude ser eu mesmo. Eu tenho sorte. Hoje eu posso viver minha homossexualidade sem perder minha família como tantos meninos por ai. E aprendi a ter orgulho do que eu sou: quase advogado, surfista e gay.
- Primeiro Crush de Famoso: Leonardo DiCaprio em Prenda-me se for capaz. assisti umas 200 vezes.
Twitter @LucasB9
5 comment(s) to... “Lucas Bianchi - RJ”
5 comentários:
Cara q linda e triste sua história, parabéns por sair vitorioso e continuar sendo um grande guerreiro!!
Eu MORRI com essa foto! Coisa mais fofa EVAH!
Foto muito fofa!
Amei. ♥
Nossa... eu sou acompanhante do blog da sua mãe e ler um pouco da sua história foi bem emocionante...
Ouwwnn*-* ki fofooo genthii >.<
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